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Caracterização de plantios multiâneos de Aniba roseaodora Ducke em área Sateré Mawé com fins de produtividade
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Caracterização de plantios multiâneos de Aniba roseaodora Ducke em área Sateré Mawé com fins de produtividade
Descrição
INTRODUÇÃO - A floresta amazônica, maior floresta tropical do mundo, abrange7,41 milhões de km² da América do Sul (OTCA, 1998), sendo que deste valor, aproximadamente 5 milhões de km² são considerados território da Amazônia Legal Brasileira (SKOOLER e TUCKER, 1993). Sua dimensão continental traz consigo uma rica biodiversidade que tem significativa relevância no mundo por seus inúmeros recursos e atrativos para as mais diversas áreas do conhecimento e interesses que possa a vir atrair, sendo credenciada como um dos maiores bancos genéticos do planeta (FEARNSIDE, 2005; PINTO, 2008). Estudar esse ecossistema complexo e heterogêneo é instigante e difícil, devido assuas inúmeras características próprias. Pois ao mesmo tempo em que a floresta amazônica é caracterizada por sua grande biodiversidade e exuberância (BRAGA 1979; TER STEEGE, 2013), é vista também por sua fragilidade a quaisquer interferências antrópicas (KITAMURA, 2001;BRASIL, 2004). Na Amazônia existem diversos povos tradicionais vivendo na floresta e da floresta, que só tiveram seus direitos garantidos a partir do Decreto 6.040/2007 que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT)(BRASIL, 2007). Esses povos são essenciais para manter a conservação da biodiversidade e precisam estar integrados aos estudos e planos de desenvolvimentos na região amazônicaa partir de produtor naturais oriundos da floresta(SILVA, 2019). A Aniba rosaeodora Ducke (da família Lauraceae), conhecida popularmente por pau-rosa, pau-rosa-itaúba (Brasil), cara-cara, rosewood (Guiana), bois-de-rose (Guiana Francesa) e enclit-rosenhout (Suriname) (SAMPAIO et al., 2003), é uma das espécies de destaque da Amazônia, tendo relação pareada com a economia da região no início do século XIX (LEITE et al, 1999). O alto teor de linalol encontrado no óleo essencial da espécie despertou o interesse de indústrias de perfumaria, química, farmacológica e médica (GOTTLIEB, 1957; BRULEAUX, 1990; SANTOS, 2017; KRAINOVIC, 2018), fazendo com que quase levasse a extinção da mesma, devido ao modelo extrativista de corte seletivo, característico na região, que não permitia a renovação de estoque na floresta (HOMMA, 2014).
7Com a redução de indivíduos maduros, ocorre a redução na produção de sementes, consequentemente, aceleração da deriva genética e redução do fluxo gênico inter-populacional (YOUNGet al., 1996; SANTOSet al., 2008; BENZAQUEM, 2009) que somado a baixa densidade de espécies florestais, por vezes ocorrendo comum ou menos de um indivíduo em período reprodutivo por hectare na Amazônia Central(AMARAL et al., 2000 e OLIVEIRA, 2000), acelera-se o processo de extinção de uma espécie. Com base nesse cenário o governo federal, junto com órgãos internacionais viram a necessidade de colocá-la na lista de espécies ameaçadas de extinção (IBAMA 1992; CITES 2010; IUCN 2014), assim como criar uma portaria (Portaria N°443 12/2014, MMA), que o caracterizou como uma espécie “Em Perigo (EN)”, ficando protegida de forma integral, sendo vedado, coleta, corte, transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercialização de indivíduos da espécie oriundos da floresta nativa, podendo ser utilizada apenas indivíduos oriundos de plantio florestal. Em um estudo realizado por Chaar (2000), a partir da análise química de folhas e galhos de Pau-rosa, ele observou que é possível um modelo de manejo baseado na copa do indivíduo ao invés do corte raso, pois com as podas aumenta a produção de massa vegetal e volume, contribuindo com isto para a obtenção de maior volume de óleo extraído. Em outros estudos realizados na Amazônia Central, Ohashi et al,. (1997; 2004), Sampaio et al.(2005) e Krainovic et al. (2011;2018)observaram também que o Pau-rosa é uma espécie que tem alta capacidade de rebrota na copa e o maior rendimento de óleo advém de galhos e folhas em relação ao tronco, indicando que é possível desenvolver plantios da espécie em larga escala e que seu manejo pode ser iniciado aos quatro (4)anos de idade(KRAINOVIC, 2011), evitando a pressão nas populações naturais, consequentemente uma possível extinção da espécie.No entanto, a composição química do óleo essencial pode ser afetada por diversos fatores, como procedência e idade da árvore (TAKEDA; 2008;LARA, 2012;KRAINOVIC, 2017), época de colheita (CHAAR, 2000;MAIA et al., 2007), parte da planta(CHAAR, 2000; TAKEDA, 2008; KRAINOVIC, 2011,2017; FIDELIS et al, 2012, 2013; LARA, 2012), entre outros. Estudar a caracterização química de populações naturais da espécie, pensando no domínio de parâmetros qualitativos do óleo essencial, assim como o estudo de variabilidade genética dessas populações,visando à seleção de progênies de qualidade superior para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético, assim como o planejamento de toda a cadeia de um plantio florestal, desde a obtenção de sementes de qualidade até o manejo da espécie, poderá auxiliar nas políticas públicas para o desenvolvimento de plantios na região. Um estudo desenvolvido por Santos et al., (2008) em três populações de Pau-rosa na Amazônia Central, ele observou alta variabilidade genética dos plantios, tendo maior variabilidade genética entre indivíduos do mesmo plantio do que entre plantios, dando destaque para a população de Manaus (Reserva Florestal Adolpho Ducke), que vem sendo protegida a 39 anos. Isso nos mostra que é possível reverter a atual situação da espécie, através de proteção de áreas onde aespécie ocorre, como indicou Leite et al., (1999), assim como pensar no Pau-rosa como uma espécie para integrar,Área de Preservação Permanente (APP), Área de Reserva Legal (ARL) ou área ociosas,que são fatores de interesse predominante na Amazônia. O Pau-rosa se apresenta como uma grande aliada para o desenvolvimento econômico da região, principalmente de pequenos produtores e comunidades tradicionais, pois do Pau-rosa se aproveita tudo(HOMMA, 2016).Com esses aspectos em mente o presente estudo tem como objetivo geral criar base técnica científica para a bieconomia de Aniba rosaeodora Ducke, na área Sateré-Mawé, dividindo o estudo em dois capítulos. No primeiro capítulo iremos realizar a caracterização dos plantios multiâneos a partir de inventário florestal, quantificar a biomassa por plantio, assim como realizar a caracterização química de óleo essencial oriundo de folhas e galhos finosde plantios de Pau-rosa em 3 diferentes municípios da Amazônia Central, com diferentes idades de plantio (Barreirinha, plantio de 12(doze)e 13(treze)anos; Maués, plantio de 7(sete)e 10(dez)anos e Parintins, plantio de 22(vinte e dois anos), com o intuito de identificar se há diferença entre componentes químicos no óleo essencial e se essa diferença pode ser explicada pela origem geográfica, idade ou influência da insolação nesses indivíduos. Dessa forma finalizaremos o capítulo com um estudo preliminar de rentabilidade econômica dos plantios analisados.
9Nosegundo capítulo iremos estudar a variabilidade genética desses plantios, com o intuito de analisar se há diferença genética entre os indivíduos do mesmo plantio e entre plantios de diferentes municípios. As conclusões geradas a partir desse estudo nos farão entender o perfil dos componentes químicos dos óleos essenciais analisados de diferentes origens geográficas, idades e partes da planta, assim como constatar o índice de variabilidade genética entre e dentro de plantios de Pau-rosa de diferentes origens geográficas, observando se essas áreas tem potencial para se tornar um pomar de sementes da espécie.Os resultados desse estudo visa auxiliar na aprovação do Primeiro Plano de Manejo de Pau-rosa (Aniba roseadora Ducke), na terra indígena Sateré Mawé, assim como no avanço dos conhecimentos científicos da espécie, através do manejo e da conservação do Pau-rosa, podendo futuramente auxiliar nas tomadas de decisões a nível local e regional, contribuindo para o uso sustentável da espécie